Osteoartrose do joelho

A osteoartrose é uma doença degenerativa e inflamatória responsável pela deterioração gradativa das articulações do corpo humano. Estima-se que, a partir dos 60 anos, 9,6% dos homens e 18% das mulheres manifestarão algum sinal ou sintoma da osteoartrose do joelho.

Osteoartrose dos compartimentos medial e lateral do joelho.

A cartilagem articular, constituída por água (em torno de 66% a 80%), colágeno tipo II e proteoglicanos, tem papel fundamental na mobilidade articular e absorção de impacto. Quando em boas condições, possibilita a movimentação ampla, indolor e sem gasto de energia. Também reduz o impacto através da articulação, o qual pode atingir até cinco vezes o peso corporal durante atividades como andar, correr e saltar. Com a progressão da osteoartrose surgem lesões no tecido condral tornando-o amolecido e irregular. Então, pequenos fragmentos destacam-se e perpetuam a resposta inflamatória crônica, além de proporcionarem estalidos durante a mobilização do joelho. Ao longo dos anos os ligamentos e meniscos tornam-se degenerados, podendo resultar em instabilidade articular. Também poderão desenvolver-se deformidades articulares como: desvios em varo e valgo, encurtamento do membro inferior e incapacidade de extensão completa do joelho.

A. Neutro
B. Varo
C. Valgo

A osteoartrose pode ser primária (sem causa definida) ou secundária quando associada a fraturas, lesões ligamentares, lesões meniscais, malformações congênitas, artrite reumatóide, doenças metabólicas ou doenças neuropáticas. Até a quinta década de vida a prevalência maior é no sexo masculino, entretanto, a partir da década seguinte torna-se mais comum nas mulheres, provavelmente devido a condições hormonais (menopausa). Estudos recentes demonstraram a estrita relação entre a obesidade e a osteoartrose do joelho, podendo esta manifestar-se em até 60% das pessoas com IMC (índice de massa corpórea) maior ou igual a 30.

Caracteristicamente apresenta evolução lenta com sintomas surgindo entre a quinta e sexta década de vida. No início manifesta-se com dor no joelho de baixa intensidade associada a atividades de alta demanda, como trabalhos extenuantes e corridas. Ao longo dos anos a dor torna-se mais intensa e frequente podendo até mesmo persistir durante o repouso. Também podem aparecer outros sinais e sintomas como: diminuição de mobilidade do joelho e derrame intra-articular frequente.

O diagnóstico é confirmado com a história clínica e a radiografia do joelho. Neste exame de imagem encontraremos alterações típicas como: diminuição do espaço articular, osteófitos, esclerose subcondral, cistos subcondrais e deformidades articulares. Na maioria das vezes não são necessários outros tipos de exames (ressonância magnética ou tomografia computadorizada).

Na fase inicial os sintomas podem ser amenizados com a utilização de medicamentos (analgésicos e anti-inflamatórios), além de terapias alternativas como a fisioterapia, a acupuntura e a hidroterapia. Atividades físicas com excesso de impacto no joelho, como corridas, saltos e agachamentos, devem ser evitadas. O controle do peso corporal também é fundamental, considerando que a obesidade constitui fator de risco importante para o desenvolvimento de osteoartrose.

Nas últimas décadas surgiram algumas alternativas para o alívio da dor. Uma delas é o uso contínuo de condroprotetores (glicosamina e condroitina) que, segundo alguns estudos, exercem influência direta na produção dos componentes da cartilagem articular.

Outra possibilidade é a infiltração intra-articular com ácido hialurônico (viscosuplementação). Esta substância atua como lubrificante articular resultando em melhor distribuição de forças e diminuição da pressão exercida pelo peso. Também é capaz de alterar a expressão gênica de citocinas e enzimas associadas ao desenvolvimento de osteoartrose. Infiltrações com corticosteroides e anestésicos devem ser evitadas pois comprovadamente ocasionam danos ao tecido condral.

Quando todos estes métodos falham ainda resta a opção do tratamento cirúrgico (artroscopia, osteotomias e artroplastias).

A artroscopia é indicada em casos iniciais em pacientes jovens com objetivo de retirar corpos livres e regularizar lesões meniscais. Entretanto, este tipo de procedimento apresenta resultados clínicos limitados na existência de lesões cartilaginosas extensas.

Já as osteotomias estão indicadas em situações onde a osteoartrose acomete apenas um dos compartimentos do joelho (medial ou lateral) associada a desvio angular do membro inferior. Opção viável para pacientes jovens, ativos e que ainda não preenchem todos os critérios para a substituição articular total. Geralmente proporcionam melhora significativa da dor por aproximadamente 10 a 12 anos, podendo, posteriormente, ser indicada a artroplastia total.

Osteoartrose do compartimento medial do joelho.

A osteotomia valgizante corrige o desvio em varo do joelho (desvio medial do eixo mecânico) através de um corte na região proximal da tíbia, podendo ser medial (abertura) ou lateral (fechamento). Após é realizada a correção do eixo e posterior fixação com placas e parafusos.

Osteotomia valgizante de abertura da tíbia proximal.

A osteotomia varizante é utilizada para correção dos desvios em valgo do joelho (desvio lateral do eixo mecânico) através de um corte na região distal do fêmur.

Osteotomia varizante de abertura do fêmur distal.

Em ambas as situações é preciso aguardar a consolidação total da osteotomia, cerca de 45 dias, para liberação de carga total no membro inferior.

Outra opção para osteoartrose em apenas um dos compartimentos do joelho e a substituição articular parcial. Neste caso, poderá ser implantada uma prótese articular em apenas um dos compartimentos do joelho (artroplastia parcial do joelho).

Artroplastia parcial do compartimento lateral do joelho.

Em situações onde todas os outros tratamentos falharam, inclusive os cirúrgicos (osteotomias e artroplastia parcial), está indicada a artroplastia total do joelho. Toda cartilagem articular é ressecada através de cortes ósseos realizados no fêmur, tíbia e patela. Depois, os componentes (femoral, tibial e patelar) são encaixados nos ossos e fixados com cimento ósseo. Tal técnica permite a deambulação precoce sem a necessidade de evitar a descarga de peso no joelho operado. O alívio da dor é imediato assim como a recuperação funcional da articulação, incluindo melhora da mobilidade e o realinhamento do membro inferior.

Artroplastia total do joelho.